Wearables na saúde ocupacional promovem prevenção e decisões baseadas em dados
Um relógio inteligente aponta sinais de fadiga ao longo do turno. Um sensor preso à roupa detecta movimentos de risco em tarefas repetitivas. E, no escritório, dispositivos simples ajudam a enxergar padrões inadequados de postura. Quando bem usados, os wearables na saúde ocupacional antecipam riscos e tornam a prevenção mais objetiva, com dados que viram indicadores para decisões do SESMT (Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho).
Do ponto de vista técnico, wearables são sensores usados no corpo que medem sinais do organismo e do movimento e, em alguns casos, possuem marcadores bioquímicos. Uma revisão em Nature Reviews Materials descreve diferentes formatos, como relógios, “patches”, roupas com sensores e até dispositivos tipo “tatuagem”, todos com o mesmo objetivo: registrar dados continuamente e transformá-los em informação útil.

Estudos recentes corroboram que as tecnologias ampliam o monitoramento ocupacional e fortalecem a prevenção de doenças. A seguir, conheça algumas das mais relevantes que cobrem ergonomia, postura, sinais vitais e estresse ocupacional, ou seja, as quatro frentes que costumam concentrar ações preventivas no dia a dia.
1- Sensores para monitoramento de sobrecarga e avaliação ergonômica
Na saúde ocupacional, um dos pontos de maior atenção são os distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao trabalho, conhecidos como DORT. A prevenção desses distúrbios preserva a saúde dos trabalhadores e reduz o passivo trabalhista das empresas.
Um caminho para enfrentar o problema aparece num estudo publicado em 2025, com participação de instituições da República Tcheca, que avaliou a viabilidade de um sistema vestível para estimar risco de sobrecarga biomecânica por meio de eletromiografia de superfície (EMG). A proposta integra sensores de EMG, aplicativo móvel e análise em nuvem, com leitura em tempo real e geração de indicadores interpretáveis de carga muscular.
Os dados obtidos pelos sensores formam indicadores de carga muscular que podem ajudar os profissionais do SESMT a ajustar tarefas e reduzir DORTs.
2- Estimativa de risco postural por redes neurais
Os distúrbios musculoesqueléticos relacionados ao trabalho podem se dar mesmo quando não há uma sobrecarga física aparente. Eles aparecem, por exemplo, em trabalhadores que passam muitas horas sentados em frente ao computador.
Um dos caminhos para impedir DORTs desse tipo é antecipar os riscos. Foi justamente essa a proposta de um grupo de pesquisadores mexicanos num estudo feito com 69 participantes, que realizaram tarefas repetitivas durante um período determinado. As avaliações manuais exigem especialistas e tempo elevado, enquanto modelos de rede neural interpretam os dados dos sensores e classificam o risco postural em tempo real.
Os cientistas propuseram uma abordagem baseada em dados para avaliar a postura por meio de sensores de unidade de medida inercial (IMU) e modelos de rede neural. Com isso, chegou-se a um modelo de predição em tempo real que classifica o nível de exposição postural.
3- Sensores vestíveis para monitoramento de saúde em tempo real
Além da prevenção de lesões, os wearables na saúde ocupacional capturam indicadores fisiológicos que revelam oscilações relevantes de saúde. Eles podem monitorar sinais como frequência cardíaca, eletrocardiograma (ECG), respiração e postura, dependendo do tipo de dispositivo e do sensor embarcado; sensores bioquímicos também aparecem na literatura como caminho para detectar alterações metabólicas em situações específicas.
A aplicação desses vestíveis pode fortalecer a prevenção de quedas, o feedback do estado motor e promover o diagnóstico precoce de doenças. Na saúde ocupacional, esse tipo de monitoramento tende a fazer mais sentido quando há risco de eventos agudos (queda, mal súbito, fadiga, calor), exposição relevante ou necessidade de acompanhamento em campo. Revisões sobre sensores em trabalhadores industriais também destacam benefícios potenciais e desafios de adoção.

4- Wearables e machine learning para monitorar estresse ocupacional
A saúde física dos trabalhadores tem relação direta com seu bem-estar emocional. Cada vez mais, a questão mental tem sido debatida na saúde ocupacional. Em 2024, segundo o Ministério da Previdência Social, o Brasil registrou 472.328 afastamentos por transtornos mentais, como ansiedade e depressão.
As análises de estresse obtidas pelos wearables permitem identificar grupos mais vulneráveis e orientar ações de saúde mental. Uma pesquisa desenvolvida por cientistas da França, Estados Unidos, Arábia Saudita e Paquistão apontou uma direção para esse enfrentamento.
O modelo proposto usou técnicas avançadas de aprendizado de máquina (machine learning) e as integrou à Internet das Coisas (IoT) para coletar dados fisiológicos de código aberto indicativos do estresse dos trabalhadores em linhas de montagem. Isso foi feito por meio de um relógio inteligente que monitora marcadores como frequência cardíaca e frequência respiratória. Com base nos indicadores fisiológicos, os cientistas desenvolveram uma estrutura capaz de prever com precisão os níveis de estresse dos trabalhadores. O modelo antecipa níveis críticos e apoia intervenções rápidas.
Aqui, o ponto central não é só “medir estresse”, e sim definir governança. Por exemplo: o que será medido, por quê, quem vê, por quanto tempo, com que consentimento e qual ação de cuidado acontece depois.
Wearables na saúde ocupacional e outras tecnologias podem ser transformadoras
Wearables e outras tecnologias ampliam o conjunto de indicadores disponíveis para médicos do trabalho e permitem decisões mais rápidas.
Algumas das novas ferramentas estão em fase de testes e podem se adequar melhor em determinados contextos. Porém, cabe aos médicos do trabalho compreender quais se adaptam a cada necessidade.
Para funcionar no mundo real, é importante observar três cuidados: propósito claro (prevenção, ergonomia, triagem, investigação), privacidade e transparência com o trabalhador, e validação no contexto da atividade.

Dentre as possibilidades trazidas pelas novas tecnologias, vale um destaque adicional para o monitoramento de sinais vitais. Essa mensuração pode ser feita também por meio de um totem ou cabine com uma câmera inteligente. Quer entender como isso funciona? Conheça agora mesmo o Office Doctor, da healthtech Oliv-e.



