Felicidade no trabalho: por que esse tema se tornou urgente nas empresas?
Felicidade no trabalho: por que esse tema se tornou urgente nas empresas?
O tema felicidade no trabalho passou a ocupar um lugar central nas discussões sobre saúde corporativa. Diante de um cenário marcado por altos níveis de estresse, ansiedade e adoecimento emocional, empresas que desejam crescer de forma sustentável precisam olhar com atenção para o bem-estar de suas equipes, por exemplo. Nesta entrevista exclusiva ao blog da Oliv-e, Walderez Fogarolli, diretora de Gestão de Saúde na WTW Brasil e especialista em Desenvolvimento Humano e Organizacional, com foco em cultura, liderança e times, analisa os caminhos para transformar o ambiente profissional em um espaço mais saudável, inclusivo e motivador.
Com base em dados recentes e em sua experiência com programas de bem-estar corporativo, Walderez defende que a cultura da felicidade deve ser tratada como propósito organizacional, e não como benefício pontual. Isso significa, por exemplo, investir em segurança psicológica, lideranças preparadas, canais de escuta e soluções digitais que permitam acompanhar riscos, personalizar ações e medir resultados. Ao conectar saúde, portanto, performance e tecnologia, as empresas ganham em produtividade, reputação e capacidade de atrair talentos. A seguir, confira a entrevista completa:
Oliv-e – O que há de mais urgente ou inovador hoje quando falamos em felicidade no trabalho? Quais aspectos considera centrais nesse cenário, diante dos desafios que empresas e colaboradores enfrentam atualmente?
Walderez – Há uma crise relacionada à saúde mental, e está claro que o ambiente de trabalho é um agente importante de risco psicossocial. As empresas precisam adotar medidas que atenuem os riscos e que ajudem a manter o equilíbrio emocional, por exemplo. Passamos grande parte do nosso tempo no ambiente de trabalho – uma fonte de satisfações, frustrações, sensação de impotência, realizações, relacionamentos saudáveis, relacionamentos tóxicos, entre tantas outras emoções.
A implementação da cultura de bem-estar integrado e felicidade corporativa é capaz de mitigar riscos existentes no ambiente de trabalho, além de trabalhar com a resiliência dos empregados, contribuindo para manter o equilíbrio emocional das equipes.
Em uma pesquisa realizada pela WTW em 2024, por exemplo, constatamos que 49% das pessoas apresentam níveis de estresse acima da média ou alto; 43% têm sintomas de ansiedade ou depressão; e 24% relatam ter algum problema de saúde mental.

Oliv-e – Como um ambiente leve e saudável pode influenciar a motivação no trabalho e a qualidade de vida fora dele?
Walderez – A cultura da felicidade tem seu foco em um ambiente de trabalho integrativo, com liberdade de expressão, flexibilidade, transparência e reconhecimento. É uma cultura que incentiva eventos sociais e a também manutenção de bons relacionamentos, que são geradores daquilo que chamamos de salário emocional. É uma ferramenta fundamental de atração, bem como retenção de talentos.
Oliv-e – Poderia citar ações que promovem a felicidade no trabalho e ajudam a reduzir riscos psicossociais?
Walderez – A princípio, o risco psicossocial relacionado ao ambiente de trabalho se refere às condições que podem afetar a saúde mental, emocional e social dos trabalhadores. O risco psicossocial, porém, é influenciado por fatores organizacionais, sociais e interpessoais presentes nas atividades laborais.
Entre eles estão: carga excessiva de trabalho, riscos no ambiente de trabalho, falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, ambiente hostil ou não inclusivo, falta de liberdade de expressão, estilo de gestão inadequado, falta de reconhecimento e de autonomia.
Quando implementamos a cultura de bem-estar integrado e felicidade corporativa, tratamos o bem-estar como propósito da organização e como estratégia do capital humano. É um modelo que conecta todas as áreas corporativas para que elas passem a focar nas necessidades do capital humano.
A cultura contempla ações nos pilares físico (saúde física e segurança no trabalho), emocional, financeiro e social (políticas de inclusão), além de abarcar desenvolvimento, reconhecimento e plano de carreira. Trata-se de uma cultura em que os líderes se alinham para promover um ambiente saudável que garanta a segurança psicológica das pessoas.
Oliv-e – Como garantir que comitês voltados à saúde mental tenham impacto real no dia a dia das empresas?
Walderez – Várias ações relacionadas à saúde mental estão sendo feitas pelos empregadores. Em uma pesquisa de diagnóstico de bem-estar que realizamos na WTW, observamos que os empregadores têm atuado em algumas frentes: campanhas de quebra de estigma, soluções virtuais de cuidados, como telepsicoterapia, treinamento de líderes para identificar e apoiar empregados com problemas de saúde mental e também identificação de situações de estresse e esgotamento.
Para uma empresa obter resultados efetivos, no entanto, é necessário ter um planejamento estratégico, em uma abordagem ampla que contemple vários aspectos:
- Identificar agentes agressores no ambiente de trabalho e implementar iniciativas que possam eliminá-los ou mitigá-los;
- Gerar um ambiente de segurança psicológica, onde os empregados possam buscar ajuda;
- Realizar a estratificação do perfil de risco populacional, com a definição de uma linha de cuidado específica para cada grupo;
- Atuar em todos os pilares de bem-estar — saúde física e pilar social;
- Dar atenção especial ao pilar financeiro, que, segundo pesquisas realizadas com empregados, tem sido o principal causador de desequilíbrio emocional;
- Definir um plano de comunicação abrangente que permita ao empregado identificar com facilidade todos os recursos disponíveis.
Oliv-e – Como o uso inteligente de dados pode apoiar estratégias de felicidade e saúde mental nas organizações?
Walderez – Os dados podem ser bastante úteis se forem bem organizados e utilizados com objetivos específicos. Entendo que há três caminhos possíveis e complementares para o uso inteligente dos dados:
- Mapeamento de riscos emocionais e segmentação de ações: os dados permitem adaptar programas de bem-estar para diferentes públicos, tais como operacionais, mulheres e pessoas LGBTQIA+, cada um deles com linguagem, horário e abordagem adequados;
- Monitoramento em tempo real: dashboards e relatórios mensais ajudam a acompanhar indicadores como absenteísmo, engajamento e evolução clínica dos colaboradores;
- KPIs estratégicos: algumas empresas estão criando indicadores como “percentual de afastamentos por saúde mental” ou “custo evitado com ações de bem-estar” para associar felicidade a resultados financeiros.
Oliv-e – O que explica os altos índices de estresse e problemas emocionais revelados pela Pesquisa Global de Atitudes sobre Benefícios – WTW?
Walderez – De acordo com a pesquisa, algumas características foram identificadas como fatores desencadeadores de ansiedade e depressão. Funcionários com salários mais baixos possuem um percentual maior relatado tanto de ansiedade quanto de depressão. Baixo engajamento no trabalho, doenças físicas, pouco engajamento social e, principalmente, dificuldades financeiras foram os fatores mais associados aos transtornos mentais dos empregados.
Oliv-e – O que as empresas podem fazer para acolher mulheres, pessoas LGBTQIA+ e operacionais diante do esgotamento?
Walderez – As empresas devem atuar em políticas inclusivas para mitigar a vulnerabilidade desses grupos no ambiente de trabalho, além de adotar medidas de prevenção específicas com foco na saúde da mulher e demais grupos. Outro aspecto importante também é o engajamento das lideranças na criação de uma cultura de respeito e acolhimento. Isso deve passar pela alta direção da empresa e envolver uma série de treinamentos, com temas como reconhecimento de viés inconsciente, promoção da empatia ativa e forma de agir diante de comportamentos excludentes.
Existem algumas ações possíveis para ampliar o acolhimento de grupos vulneráveis:
- Estabelecer canais de escuta ativa e segura para que todos possam relatar sobrecarga, discriminação ou sofrimento emocional;
- Criar comitês de grupos de diversidade;
- Para as mulheres, garantir apoio à saúde mental, combate ao assédio, flexibilidade para conciliar trabalho e vida pessoal e programas de liderança feminina;
- Com ênfase em pessoas LGBTQIA+, a empresa deve garantir o uso do nome social, criar políticas de inclusão reais, prestar apoio psicossocial e combater a LGBTfobia estrutural;
- Em relação aos operacionais, cabe adaptar ações ao chão de fábrica, com linguagem acessível, horários compatíveis e reconhecimento da carga física e emocional do trabalho.
Oliv-e – Como aproveitar o adiamento da NR-1 para fortalecer ações de cuidado com saúde mental?
Walderez – Com o adiamento da NR-1, as empresas terão um tempo maior para organizar sua estratégia de saúde mental e fazer um levantamento de indicadores pré e pós-implantação das iniciativas.
A NR-1 estabelece as seguintes responsabilidades aos empregadores:
- Efetuar o mapeamento dos riscos psicossociais do ambiente de trabalho e implementar ações que possam mitigá-los e/ou eliminá-los;
- Criar políticas inclusivas com canais de denúncia contra assédio;
- Treinar líderes em relação à segurança psicológica;
- Implementar um processo de governança dos indicadores para acompanhamento de resultados;
- Disponibilizar programas de saúde mental que contemplem prevenção e recursos assistenciais.
Oliv-e – Qual é o papel de ferramentas digitais como as da Oliv-e na promoção do bem-estar e engajamento no trabalho?
Walderez – As ferramentas digitais têm um papel estratégico na transformação do bem-estar corporativo em algo prático, mensurável e engajador. Elas facilitam, por exemplo, a gestão de saúde e qualidade de vida. Isso pode se dar de algumas formas:
- Plataformas de monitoramento que permitem acompanhar indicadores de saúde física, mental e emocional dos colaboradores em tempo real;
- Estratificação de risco populacional para viabilizar planos personalizados sob medida;
- Ferramentas digitais que possibilitam diferentes tipos de pesquisas, com focos como bem-estar, clima organizacional e experiência do empregado. Funcionam como canais de escuta anônimos, que fortalecem a confiança e a transparência;
- Recursos como recompensas, rankings e desafios colaborativos, inseridos nos aplicativos de saúde, aumentam o engajamento e o senso de pertencimento dos colaboradores;
- Dados epidemiológicos extraídos das ferramentas ajudam gestores a tomar decisões mais empáticas e estratégicas, que objetivem o alinhamento entre bem-estar e performance.
Oliv-e – Como soluções digitais podem apoiar a adaptação das empresas às exigências da NR-1?
Waldrez – As soluções digitais poderão contribuir na realização de pesquisas voltadas à percepção do empregado quanto aos riscos psicossociais. Com a ajuda das ferramentas digitais, também é possível fazer pesquisas de clima e construir novos canais de denúncia.
Existem, ainda, softwares específicos e ferramentas de BI indicados para aprimorar a governança de ações, com indicadores específicos. As soluções digitais também são úteis para a capacitação de líderes e demais empregados, com treinamentos virtuais.
Oliv-e – Como integrar os pilares da NR-1 – mapeamento, mitigação, perfil de risco e governança – de forma estratégica?
Walderez – As ações da NR-1, por sua vez, devem ser englobadas no conceito de bem-estar integrado, com conexão de diversas áreas corporativas e um processo de governança unificado. É preciso adotar indicadores focados para medir se os resultados obtidos estão de acordo com o que foi projetado.
As áreas de saúde e segurança devem atuar na mitigação de riscos e no acompanhamento de doenças ocupacionais. Já a área de treinamento e desenvolvimento deve treinar líderes e gestores para a NR-1. Por isso, as lideranças precisam estar 100% engajadas na cultura de bem-estar. Cabe ao time de recursos humanos a análise dos indicadores relacionados a absenteísmo e afastamentos previdenciários.
Outro ponto importante é a presença de um gestor de qualidade de vida e programas de saúde que acompanhe os indicadores do programa de saúde mental. Também há o envolvimento da área jurídica, que monitora ações trabalhistas e fator previdenciário. Por fim, a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) deve ser formada por agentes multiplicadores e funcionar como uma central de mapeamento das ações.
Oliv-e – Como incentivar o uso de indicadores para promover mudanças reais na cultura de saúde mental das empresas?
Walderez – A implementação da cultura de bem-estar e felicidade corporativa pode ser avaliada e mensurada por meio de indicadores que chamamos de VOE (valor agregado). Eles estão vinculados à atração, retenção de talentos, índice de qualidade de vida e bem-estar do empregado (pesquisa de bem-estar), absenteísmo, afastamentos previdenciários, imagem de mercado, entre outros aspectos.
Oliv-e – Como lidar com lideranças tóxicas e ambientes excludentes para que a felicidade corporativa seja prática, e não discurso?
Walderez – A cultura de bem-estar integrado e felicidade corporativa deve fazer parte do propósito e da cultura da organização. Os líderes têm de estar totalmente engajados nessa cultura e se apresentar como exemplos para seus subordinados.
No processo de mudança cultural, os líderes precisam receber treinamentos específicos para que se engajem no conceito e se adequem às diretrizes organizacionais. O monitoramento, por meio de pesquisas de clima e outros levantamentos, permite identificar distorções entre áreas e/ou lideranças específicas. Portanto, a organização pode atuar e aplicar medidas de correção.
Oliv-e – O que diferencia empresas que assumem o cuidado com a saúde mental mesmo antes da obrigatoriedade legal?
Walderez – A pesquisa Diagnóstico do Bem-Estar, realizada em 2024 pela WTW com mais de 3.600 empresas e 18 milhões de empregados, traz insights valiosos sobre como empresas que investem em saúde e bem-estar têm melhor performance organizacional.
Além disso, empresas com programas eficazes de bem-estar têm até duas vezes mais chances de apresentar desempenho superior em capital humano e resultados financeiros. Outro dado de impacto diz respeito à captação de talentos: investir em bem-estar aumenta em 54% a chance de atrair e reter talentos.
Felicidade no trabalho é um tema cada vez mais urgente e relevante
As reflexões de Walderez Fogarolli apontam, também, caminhos para empresas que desejam construir ambientes mais humanos e saudáveis. Ao tratar a saúde mental com seriedade, por exemplo, as organizações não apenas cuidam de seus times, mas também fortalecem sua sustentabilidade e competitividade.
Esse movimento, portanto, se alinha a exigências regulatórias importantes, como a atualização da NR-1, que inclui os riscos psicossociais entre os fatores a serem observados na gestão de saúde e segurança no trabalho.
Contudo, colocar a felicidade no trabalho como pilar da cultura organizacional envolve escuta, acolhimento e também o uso inteligente da tecnologia. A Oliv-e Saúde desenvolve soluções digitais que ajudam empresas a integrar o cuidado com a saúde emocional à rotina dos colaboradores. Clique neste link e conheça as ferramentas oferecidas pela Oliv-e.

Walderez Fogarolli, diretora de Gestão de Saúde na WTW Brasil



